Bom Plantio

 Introdução

O feno é um dos alimentos volumosos mais tradicionais na nutrição animal, especialmente em épocas de seca ou escassez de pastagem. Produzi-lo corretamente garante qualidade nutricional, maior durabilidade e melhor aproveitamento pelo gado. Neste artigo, você vai entender o que é o feno, os benefícios de sua utilização e o passo a passo para produzi-lo com eficiência.


 O Que É Feno?

O feno é o resultado da desidratação de plantas forrageiras (gramíneas e leguminosas) colhidas no ponto ideal de desenvolvimento, secas e armazenadas para alimentação animal. Ele é rico em fibras, auxilia na digestão e é uma alternativa segura de alimento durante o inverno ou em períodos secos.


Por Que Produzir Feno?

  • Mantém a nutrição dos animais em épocas de seca

  • Reduz a dependência de ração concentrada

  • É fácil de armazenar e transportar

  • Possui longa durabilidade se bem conservado

  • Pode ser feito com forragens disponíveis na propriedade

Rendimento e Quantidade de Feno por Hectare

Produção Média por Espécie Forrageira

Gramíneas:

  • Tifton 85: 15-20 toneladas de feno/ha/ano (3-4 cortes)
  • Coast-cross: 12-18 toneladas/ha/ano (3-4 cortes)
  • Capim-elefante: 20-30 toneladas/ha/ano (4-5 cortes)
  • Braquiária: 8-12 toneladas/ha/ano (2-3 cortes)
  • Pangola: 10-15 toneladas/ha/ano (3 cortes)

Leguminosas:

  • Alfafa: 12-18 toneladas/ha/ano (5-7 cortes)
  • Estilosantes: 8-12 toneladas/ha/ano (2-3 cortes)

Conversão: Massa Verde → Feno

  • Perda média de peso na secagem: 70-75%
  • Exemplo prático: 100 kg de capim verde = 25-30 kg de feno pronto

Consumo Médio Diário por Animal

  • Bovino adulto: 2-3% do peso vivo (ex: vaca de 500 kg = 10-15 kg de feno/dia)
  • Equino: 1,5-2,5% do peso vivo
  • Caprino/Ovino: 3-4% do peso vivo
  • Coelho adulto: 50-80g/dia (consumo livre)

💡 Cálculo prático: Para alimentar 10 vacas por 90 dias de seca, você precisa de aproximadamente 11-13 toneladas de feno (arredonde para 15 ton considerando perdas).


Principais Plantas Usadas Para Feno

  • Gramíneas: Tifton 85, Coast-cross, Pangola, Capim-elefante, Braquiária

  • Leguminosas: Alfafa, Estilosantes, Kudzu tropical

A escolha da planta depende do clima, do solo e do tipo de animal a ser alimentado.

Etapas da Produção de Feno

1. Escolha da Forrageira

Escolha uma planta com boa produção de massa verde, valor nutritivo e capacidade de rebrote.

Dica: Tifton 85 e alfafa são ótimos para feno de alta qualidade.

Qualidade Nutricional: Como Avaliar

Indicadores Visuais de Qualidade

✅ Feno de Alta Qualidade:

  • Cor verde-clara a verde-amarelada
  • Folhas preservadas e inteiras
  • Textura macia ao toque
  • Cheiro agradável de “capim fresco”
  • Caules finos e flexíveis
  • Ausência total de mofo ou manchas

❌ Feno de Baixa Qualidade:

  • Cor marrom escura ou amarronzada
  • Poucas folhas, muitos talos grossos
  • Textura dura, quebradiça
  • Cheiro de mofo, fermentado ou sem cheiro
  • Presença de poeira excessiva
  • Manchas ou pontos escuros

Composição Nutricional Média

Tifton 85 (corte ideal):

  • Proteína bruta: 10-14%
  • Fibra bruta: 28-32%
  • Digestibilidade: 55-65%
  • Energia: 2,0-2,3 Mcal/kg

Alfafa (corte ideal):

  • Proteína bruta: 16-22%
  • Fibra bruta: 25-30%
  • Digestibilidade: 60-70%
  • Energia: 2,2-2,5 Mcal/kg
  • Rico em cálcio e vitaminas

Coast-cross:

  • Proteína bruta: 8-12%
  • Fibra bruta: 30-34%
  • Digestibilidade: 50-60%

Análise Laboratorial (recomendado)

Para feno comercial ou rebanhos de alta produção, faça análise bromatológica:

  • Proteína bruta (PB)
  • Fibra em detergente neutro (FDN)
  • Fibra em detergente ácido (FDA)
  • Digestibilidade in vitro
  • Energia líquida

Custo: R$ 80-150 por amostra Onde fazer: Laboratórios agrícolas, universidades, Embrapa


2. Momento Ideal de Corte

O ponto de corte é antes do florescimento, quando a planta ainda está tenra, com alto teor proteico e digestibilidade.

  • Corte muito cedo: menor rendimento

  • Corte muito tarde: menor valor nutritivo


3. Corte da Forragem

Use roçadeiras ou cortadores de tambor. Corte deve ser uniforme e em horário seco, de preferência no fim da manhã.

Manejo da Forrageira para Produção Contínua

Adubação Entre Cortes

Para manter a produtividade:

Após cada corte aplicar:

  • Nitrogênio: 50-80 kg/ha (ureia ou sulfato de amônio)
  • Potássio: 30-50 kg/ha (cloreto de potássio)
  • Fósforo: conforme análise de solo

Adubação orgânica alternativa:

  • Esterco bovino: 5-10 ton/ha/ano
  • Cama de frango: 2-4 ton/ha/ano

Frequência de Corte Ideal

  • Tifton/Coast-cross: a cada 35-45 dias
  • Alfafa: a cada 28-35 dias
  • Capim-elefante: a cada 60-70 dias
  • Braquiária: a cada 45-60 dias

⚠️ Atenção: Cortes muito frequentes esgotam a planta. Respeite o período de rebrota!

Altura de Corte

  • Gramíneas: 5-10 cm do solo
  • Alfafa: 5-7 cm (não corte rente!)
  • Leguminosas tropicais: 10-15 cm

Dica: Corte muito raso prejudica a rebrota e reduz a vida útil da forrageira.

Irrigação (opcional, mas recomendada)

Em regiões com déficit hídrico:

  • Irrigação por aspersão: aumenta produção em 40-60%
  • Permite cortes mais frequentes
  • Melhora a qualidade nutricional

4. Secagem (Pré-secagem no campo)

Etapa crítica! O objetivo é reduzir a umidade da planta de 75-80% para 15-20%, evitando fermentação e mofo.

  • Vire o material com enleiradores para secar por igual

  • Evite exposição à umidade ou chuvas

Geralmente, a secagem no campo dura de 1 a 3 dias, dependendo do clima.

Teste de Umidade do Feno (Métodos Práticos)

Método 1: Teste da Torção

  1. Pegue um punhado de feno
  2. Torça com força
  3. Resultado:
    • ❌ Sai umidade/seiva = muito úmido (60%+)
    • ⚠️ Muito flexível, não quebra = ainda úmido (25-30%)
    • ✅ Quebra com estalido, mas não vira pó = ponto ideal (15-20%)
    • ❌ Vira pó, esmigalha totalmente = seco demais (<12%)

Método 2: Teste do Fardo

  1. Enfarde uma pequena amostra
  2. Deixe por 30 minutos
  3. Abra e verifique:
    • Se esquentou ou soltou vapor = muito úmido
    • Se está frio e seco = ponto ideal

Método 3: Medidor de Umidade (recomendado)

  • Utilize higrômetro para feno
  • Faixa ideal: 15-20% de umidade
  • Acima de 22%: risco de mofo e fermentação
  • Acima de 30%: risco de combustão espontânea!

5. Enleiramento

Após atingir o ponto ideal de umidade, forme leiras (montes alongados) com o material seco. Isso facilita a coleta e a enfardamento.


6. Enfardamento

Utilize enfardadoras (manuais ou mecânicas) para comprimir o feno em fardos — pode ser em formato cilíndrico ou retangular.

  • Fardos pequenos: mais leves, fáceis de manusear

  • Fardos grandes: mais eficientes para grandes volumes

Tipos de Fardos e Suas Vantagens

Fardos Pequenos Retangulares (30-40 kg)

Vantagens:

  • Fácil manuseio manual
  • Ideal para pequenas propriedades
  • Flexibilidade no fornecimento
  • Equipamento mais acessível

Desvantagens:

  • Mais trabalhoso (muitos fardos)
  • Maior custo de mão de obra
  • Ocupa mais espaço no armazenamento

Melhor uso: Pequenos criadores, cavalos, pets

Fardos Grandes Cilíndricos (250-500 kg)

Vantagens:

  • Alta eficiência de trabalho
  • Menor custo por tonelada
  • Menos viagens para transporte
  • Melhor para grandes volumes

Desvantagens:

  • Requer equipamento pesado (trator)
  • Dificulta fracionamento
  • Maior risco de perdas se mal armazenado

Melhor uso: Fazendas médias e grandes, gado de corte

Fardos Grandes Retangulares (400-600 kg)

Vantagens:

  • Melhor aproveitamento do espaço de armazenamento
  • Empilhamento eficiente
  • Ótimo para comercialização
  • Transporte otimizado

Desvantagens:

  • Equipamento muito caro
  • Necessita empilhadeira ou similar

Melhor uso: Produção comercial, exportação


7. Armazenamento

Guarde os fardos em local coberto, seco, arejado e elevado do chão (sobre pallets, por exemplo).

Evite contato com umidade, luz solar direta ou contato com o solo.


⚠️ Cuidados Importantes

  • Nunca fenejar plantas molhadas — o mofo pode causar intoxicação nos animais.

  • Verifique a umidade antes de enfardar.

  • Não armazene fardos com sinais de fermentação ou calor.

Principais Problemas e Como Evitá-los

1. Feno Embolorado ou Fermentado

Causas:

  • Enfardamento com umidade acima de 22%
  • Chuva durante a secagem
  • Armazenamento em local úmido

Sinais:

  • Cheiro azedo, adocicado ou de mofo
  • Manchas brancas, pretas ou esverdeadas
  • Aquecimento do fardo

Prevenção:

  • Respeite rigorosamente o teste de umidade
  • Monitore a previsão do tempo
  • Armazene em local ventilado e seco

⚠️ NUNCA forneça feno mofado aos animais! Pode causar intoxicação, problemas respiratórios e abortos.

2. Combustão Espontânea

Causas:

  • Enfardamento com umidade entre 25-35%
  • Fermentação gera calor intenso (até 80°C)
  • Pode iniciar incêndio!

Prevenção:

  • Monitore a temperatura dos fardos nos primeiros 7 dias
  • Se aquecerem além de 60°C, abra os fardos imediatamente
  • Instale termômetro de haste nos fardos maiores

3. Perda de Folhas (Perda Nutricional)

Causas:

  • Secagem excessiva
  • Manuseio brusco
  • Reviradas desnecessárias

Impacto:

  • As folhas concentram 60-70% da proteína
  • Perda de folhas = perda de qualidade

Prevenção:

  • Seque no ponto certo (não deixe virar pó)
  • Minimize o número de reviradas (2-3 no máximo)
  • Enfarde no fim da tarde quando há leve umidade do sereno

4. Infestação por Roedores

Prevenção:

  • Mantenha o galpão limpo
  • Use pallets e estruturas elevadas
  • Coloque fardos longe das paredes
  • Evite resíduos de grãos no local

5. Feno Empoeirado

Causas:

  • Secagem excessiva
  • Contaminação com terra durante o manejo
  • Armazenamento em local empoeirado

Problemas:

  • Causa tosse e problemas respiratórios (especialmente em cavalos)
  • Reduz a palatabilidade

Solução:

  • Umedeça levemente o feno antes de fornecer (se necessário)
  • Corte mais alto para evitar terra
  • Armazene em local limpo

📊 Produção x Qualidade

Fator Influência na Qualidade do Feno
Tipo de forrageira Valor nutritivo e digestibilidade
Ponto de corte Proteína x produção
Secagem adequada Evita perdas e mofos
Armazenamento Conservação a longo prazo

Para Quais Animais o Feno É Indicado?

O feno é um alimento volumoso versátil, adequado para várias espécies de animais. Seu uso correto garante fibras, estimula a mastigação e contribui para a saúde digestiva e nutricional do rebanho ou de animais de companhia. Veja abaixo como o feno se adapta a diferentes espécies:

Bovinos de Leite e de Corte

O feno é ideal para:

  • Manter a nutrição durante a seca ou quando o pasto está escasso.

  • Reduzir custos com concentrados.

  • Servir como fibra efetiva, essencial para a digestão ruminal.
    É muito usado como complemento em dietas de vacas leiteiras e novilhos de engorda.Equinos

Cavalos necessitam de forragens com alta qualidade, livre de mofo ou poeira, pois são sensíveis a problemas respiratórios.

  • O feno deve ser macio, palatável e nutritivo.

  • A alfafa fenada, por exemplo, é uma excelente opção rica em proteína.

  • Ideal para cavalos estabulados ou em treinamento.

Caprinos e Ovinos

Esses animais aproveitam bem fenos mais macios e nutritivos, como os de gramíneas finas ou leguminosas.

  • O feno complementa a dieta em regiões secas ou de pasto escasso.

  • Também é útil para manter fêmeas prenhes ou lactantes bem nutridas.

Coelhos e Animais de Estimação (versão específica)

Coelhos, porquinhos-da-índia e chinchilas devem consumir feno diariamente para:

  • Manter o intestino funcionando (fibra essencial)

  • Desgastar os dentes, que crescem continuamente

  • Evitar obesidade e problemas digestivos

🔸 Para pets, o ideal é o feno de capim (como o de timothy ou coast-cross), livre de agrotóxicos, macio e bem armazenado.

 Fornecimento do Feno aos Animais

Quantidade Diária Recomendada

Bovinos de leite:

  • Vacas em lactação: 10-15 kg/dia (completar com concentrado)
  • Vacas secas: 12-18 kg/dia

Bovinos de corte:

  • Gado adulto: 2-3% do peso vivo
  • Novilhos em engorda: suplementar com concentrado

Equinos:

  • Cavalo adulto (500 kg): 7-12 kg/dia
  • Dividir em 3-4 refeições
  • Feno deve ser a base da dieta

Caprinos/Ovinos:

  • 1-1,5 kg/dia para adultos
  • Fêmeas lactantes: aumentar 30-50%

Coelhos:

  • Acesso livre e constante
  • Renovar diariamente

Como Fornecer

❌ Evite:

  • Jogar feno no chão (desperdício e contaminação)
  • Fardos inteiros soltos (pisoteio e perda)
  • Feno úmido ou sujo

✅ Recomendado:

  • Use cochos apropriados ou comedouros suspensos
  • Forneça em horários regulares
  • Proteja da chuva e sujeira
  • Para cavalos: use redes de feno (reduz desperdício e simula pastejo natural)

Introdução Gradual

Ao introduzir feno na dieta:

  • Dias 1-3: 25% feno + 75% dieta habitual
  • Dias 4-7: 50% feno + 50% dieta habitual
  • Dias 8-10: 75% feno + 25% dieta habitual
  • Após dia 10: 100% feno (se for a dieta completa)

Isso evita problemas digestivos, especialmente em ruminantes.

Alternativas e Complementos ao Feno

Silagem

Diferença: fermentação anaeróbica (umidade 60-70%)

Vantagens:

  • Independe do clima (não precisa de dias secos)
  • Menos perdas no campo
  • Maior flexibilidade de colheita

Desvantagens:

  • Requer silo adequado
  • Maior complexidade técnica
  • Menor durabilidade após abrir

Pré-secado (Haylage)

Característica: umidade intermediária (40-50%)

Vantagens:

  • Combina benefícios do feno e da silagem
  • Alta qualidade nutricional
  • Menor risco climático

Uso: Comum em sistemas intensivos de gado leiteiro

Feno em Cubos ou Pellets

Processo: feno moído e prensado

Vantagens:

  • Facilita transporte e armazenamento
  • Reduz desperdício
  • Padronização da dieta
  • Ideal para pets e pequenos animais

Desvantagens:

  • Custo de processamento
  • Perde função de desgaste dentário (equinos e coelhos)

✅ Conclusão

A produção de feno, quando feita com planejamento e atenção às etapas, é uma excelente estratégia para garantir segurança alimentar ao rebanho e reduzir custos. Com cuidados simples, é possível produzir feno de alta qualidade na própria propriedade, aproveitando melhor os recursos disponíveis.

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